terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

PRIMEIRAS CARTAS NA EUROPA





Ainda não se conseguiu determinar com exatidão a rota pela qual as cartas foram introduzidas na Europa. É bem possível que isso tenha acontecido através da Itália - na verdade, ao tratar daquela época, devemos falar mais precisamente em Estados italianos -, que era a origem ou o término das principais vias comerciais do mundo. Mas elas também poderiam ter ingressado pela Espanha - os reinos cristãos da península Ibérica e, em especial, o de Aragão -, então parcialmente ocupada pelos muçulmanos. De todo modo, parece indiscutível que tenham chegado ao Ocidente por uma dessas duas penínsulas mediterrâneas, e talvez até simultânea e independentemente por ambas. De fato, as semelhanças entre os baralhos espanhol e italiano sugerem uma origem comum.
Depois que entraram na Europa, as cartas disseminaram-se com rapidez pelo continente.
Há menções datadas do século XIV sobre as cartas na Espanha (1371), que também foram descritas em detalhe na Suíça (1377). De 1380, têm-se notícias confirmadas sobre elas de lugares tão distantes entre si como Florença, Basiléia, Regensburgo, Brabante, Paris e Barcelona. No entanto, tudo indica que alguns anos antes as cartas eram completamente desconhecidas, uma vez que não são mencionadas nas obras de três literatos tão importantes, e tão amantes dos jogos de azar, como Petrarca, Boccaccio e Chaucer, que descreveram com maestria a época em que viveram.

CARTAS PRIMITIVAS

As primeiras cartas eram objetos luxuosos, feitos a mão e pintados como iluminuras, motivo pelo qual só estavam ao alcance dos ricos e poderosos. Não surpreende que obras tão preciosas sejam mencionadas até em testamentos, como parte de legados - é o que ocorre com um dos mais antigos testemunhos conservados sobre as cartas européias.
As cartas popularizaram-se do Velho Continente por meio de cópias realizadas com materiais e mão-de-obra mais baratos e de pior qualidade, razão pela qual rapidamente se desgastavam e deixavam de ser úteis para os jogos. Pelos documentos da época pode-se perceber que as cartas eram objetos de uso corrente em todas as camadas sociais urbanas do século XV. É interessante destacar que a maioria das provas dessa popularidade ad´vem de proibições eclesiásticas aos jogos de cartas ou de disposições das autoridades civis, que tentavam erradicá-los para evitar disputas e abusos.

BARALHO DE ISTAMBUL




O baralho que se conserva no acervo do Museu Topkapi de Istambul, encontrado por L.A. Mayer em 1939 - descoberta que se manteve praticamente ignorada até a edição póstuma de suas obras, em 1971 -, constitui o primeiro dos europeus modernos que se conhecem, no sentido de que pode ser identificado como tal por qualquer jogador atual. Esse baralho compreende 52 cartas, divididas em quatro naipes: espadas, paus, copas e moedas. Cada naipe compõe-se de dez cartas numéricas e três figuras, o malik (rei), o naib malik (vice-rei ou vizir) e o thani naib (personagem de escalão infeiror as do vizir). O termo utilizado nos nomes de duas das figuras, naib, é considerado por alguns filólogos como a origem da palavra italiana naibi, da espanhola naipe, ambas significando "carta de jogar", e da portuguesa naipe (esta com o sentido de "conjunto de cartas de jogar de um mesmo símbolo"). Assim, a expressão "jogo de cartas" seria derivada de "jogo de vizires". Embora o baralho conservado no Topkapi não seja anterior a 1400, conhecem-se cartas que poderiam provir de baralhos similares e anteriores a ele (séculos XII e XIII). Elas pertencem a coleções particulares e só puderam ser identificados como parte de um baralho após a descoberta de Mayer.
Tanto o baralho italiano - no qual os paus foram substituídos por bastões cerimoniais, conservando-se as espadas, copas e moedas (denari) - quanto o espanhol, com seus bastões, espadas, copas e ouros, parecem claramente herdeiros do baralho de Istambul.


JOGO DE BASILÉIA


No Museu Britânico, em Londres, conserva-se o original de um sermão do monge alemão  João (Johannes), da cidade de Basiléia, um dos grandes centros culturais europeus da Baixa Idade Média. Nele, João assinala claramente que as cartas haviam chegado àquela cidade vindas do exterior, em 1377. Além disso, o monge fala de reis sentados em seus tronos (o que lembra os reis do baralho italiano, que estão usualmente sentados, enquanto os  doe espanhol aparecem de pé), cada qual acompanhado por dois marechais, e de rainhas, que por sua vez contam com dois ajudantes. João de Basiléia menciona até seis baralhos de 52 a 60 cartas, agrupadas em naipes representados por símbolos. Infelizmente, ele não dá mais detalhes sobre as figuras e esses símbolos.



Nenhum comentário:

Postar um comentário