domingo, 26 de fevereiro de 2012

OS PRIMEIROS NAIPES NA ITÁLIA



Na cidade italiana de Viterbo conserva-se um livro intitulado Istoria della cittá di Viterbo, escrito por um cronista local conhecido como Covelluzo. Essa obra relata que, em 1379, tropas mercenárias de Clemente VII encontravam-se acampadas em Viterbo, cidade que pilharam incessantemente. A crônica relata outros acontecimentos notáveis e, entre os quais, um de especial relevância no que se refere à história dos naipes: "Naquele ano de tamanhas calamidades, foram introduzidos em Viterbo os jogos de cartas que provinham dos sarracenos, chamado naibi".
Em princípio, essa crônica serviria para elucidar todas as dúvidas sobre a origem dos naipes e a sua introdução na Europa; no entanto, o cronista não apresenta nenhuma prova de suas afirmações. Tampouco encontrou-se nenhuma confirmação desse fato, levando à conclusão de que os naipes eram tão populares em 1480 (ano em que Covelluzo escreveu sua crônica), que o cronista sentiu-se na obrigação de mencionar a sua introdução em Viterbo junto ao relato da violência das tropas dos papas cismáticos. Também se pode deduzir que, já nessa época, a origem dos naipes era discutida e desconhecida.
As mais antigas cartas italianas gravadas que chegaram aos nossos dias são as do denominado Tarot de Mantegna, de meados do século XV. Trata-se de uma série de cartas com fins lucrativos, de grandes dimensões e gravadas sobre um papel muito fino, características que dificultam o seu manuseio para o jogo. Ainda se conservam cinqüenta exemplares e os temas que contêm são fundamentalmente mitológicos ou alegóricos. Possuem a representação de diversos estágios da vida, de musas, das virtudes, dos planetas, das artes liberais e das ciências. Os textos das cartas estão escritos em dialeto veneziano apesar dos desenhos serem de estilo florentino, os quais são atualmente atribuídos aos grandes artistas Botticelli e  Baldini.
Anteriormente, em 1415, outro artista, Marziano de Tartona, que vivia na corte de Felipe Maria Visconti, duque de Milão, pintou uma série de cartas que continham representações de deuses acompanhados de animais. Por esse trabalho, cobrou 1.500 peças de ouro. Comenta-se que o duque costumava jogar com essas cartas pintadas que formavam um baralho de minchiata, ainda conservadas pela família. Esse baralho era uma espécie de tarô de 97 cartas, no qual os trunfos ou tarôs usuais eram acrescidos de outros sem numeração: as virtudes, os elementos e os símbolos do zodíaco. O Delfim da França pagou 15 francos por uma cópia dessas cartas em 1454, do que se deduz que já se tinha idealizado algum procedimento para fabricar cartas.
Nessa época, Francisco Fibbia, príncipe de Pisa, vivia exilado em Bolonha, onde introduziu um novo jogo conhecido como Tarô de Bolonha ou Tarocchini. O baralho utilizado para esse jogo era constituído de apenas 62 cartas: foram eliminadas 16 das 78 cartas dos tarôs usuais, cujo exemplos mais antigos encontram-se em Veneza.
Essas três formas de tarô (florentino de 97 cartas, bolonhês de 62 cartas e veneziano de 78) ainda são comuns na Itália, onde existe um grande número de variações, sobretudo em relação aos desenho e às cores.


AS PARTICULARIDADES DOS BARALHOS ITALIANOS




As cartas italianas diferem das de outros países em vários aspectos. Um deles referem-se às costas das cartas, que em muitas ocasiões ao longo do tempo foram brancas. Usualmente estavam decoradas com motivos florais ou com escudos de armas impressos por xilografia. Em muitos baralhos, o papel das costas é maior que o da cara, ao qual está colado. Essa borda também costuma ser decorada, já que forma parte das costas, e em certas ocasiões apresenta-se dobrada e colada sobre a cara da carta.
Excluindo os arcanos maiores, as cartas do baralho italiano se agrupam em quatro naipes: espadas ou cimitarras, representando a nobreza: copas, que costumam ter a forma de cálices muito elaborados e se referem à Igreja; moedas, em representação dos cidadãos, e bastões que fazem alusão aos camponeses. Nos naipes mais altos (espadas e bastões), os símbolos costumam estar entrelaçados de tal modo que dificultam a leitura do valor da carta.
Os reis dos baralhos italianos sempre aparecem sentados e as figuras dos cavalos e dos cavaleiros adquirem, em certas ocasiões, um aspecto monstruoso.


terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

PRIMEIRAS CARTAS NA EUROPA





Ainda não se conseguiu determinar com exatidão a rota pela qual as cartas foram introduzidas na Europa. É bem possível que isso tenha acontecido através da Itália - na verdade, ao tratar daquela época, devemos falar mais precisamente em Estados italianos -, que era a origem ou o término das principais vias comerciais do mundo. Mas elas também poderiam ter ingressado pela Espanha - os reinos cristãos da península Ibérica e, em especial, o de Aragão -, então parcialmente ocupada pelos muçulmanos. De todo modo, parece indiscutível que tenham chegado ao Ocidente por uma dessas duas penínsulas mediterrâneas, e talvez até simultânea e independentemente por ambas. De fato, as semelhanças entre os baralhos espanhol e italiano sugerem uma origem comum.
Depois que entraram na Europa, as cartas disseminaram-se com rapidez pelo continente.
Há menções datadas do século XIV sobre as cartas na Espanha (1371), que também foram descritas em detalhe na Suíça (1377). De 1380, têm-se notícias confirmadas sobre elas de lugares tão distantes entre si como Florença, Basiléia, Regensburgo, Brabante, Paris e Barcelona. No entanto, tudo indica que alguns anos antes as cartas eram completamente desconhecidas, uma vez que não são mencionadas nas obras de três literatos tão importantes, e tão amantes dos jogos de azar, como Petrarca, Boccaccio e Chaucer, que descreveram com maestria a época em que viveram.

CARTAS PRIMITIVAS

As primeiras cartas eram objetos luxuosos, feitos a mão e pintados como iluminuras, motivo pelo qual só estavam ao alcance dos ricos e poderosos. Não surpreende que obras tão preciosas sejam mencionadas até em testamentos, como parte de legados - é o que ocorre com um dos mais antigos testemunhos conservados sobre as cartas européias.
As cartas popularizaram-se do Velho Continente por meio de cópias realizadas com materiais e mão-de-obra mais baratos e de pior qualidade, razão pela qual rapidamente se desgastavam e deixavam de ser úteis para os jogos. Pelos documentos da época pode-se perceber que as cartas eram objetos de uso corrente em todas as camadas sociais urbanas do século XV. É interessante destacar que a maioria das provas dessa popularidade ad´vem de proibições eclesiásticas aos jogos de cartas ou de disposições das autoridades civis, que tentavam erradicá-los para evitar disputas e abusos.

BARALHO DE ISTAMBUL




O baralho que se conserva no acervo do Museu Topkapi de Istambul, encontrado por L.A. Mayer em 1939 - descoberta que se manteve praticamente ignorada até a edição póstuma de suas obras, em 1971 -, constitui o primeiro dos europeus modernos que se conhecem, no sentido de que pode ser identificado como tal por qualquer jogador atual. Esse baralho compreende 52 cartas, divididas em quatro naipes: espadas, paus, copas e moedas. Cada naipe compõe-se de dez cartas numéricas e três figuras, o malik (rei), o naib malik (vice-rei ou vizir) e o thani naib (personagem de escalão infeiror as do vizir). O termo utilizado nos nomes de duas das figuras, naib, é considerado por alguns filólogos como a origem da palavra italiana naibi, da espanhola naipe, ambas significando "carta de jogar", e da portuguesa naipe (esta com o sentido de "conjunto de cartas de jogar de um mesmo símbolo"). Assim, a expressão "jogo de cartas" seria derivada de "jogo de vizires". Embora o baralho conservado no Topkapi não seja anterior a 1400, conhecem-se cartas que poderiam provir de baralhos similares e anteriores a ele (séculos XII e XIII). Elas pertencem a coleções particulares e só puderam ser identificados como parte de um baralho após a descoberta de Mayer.
Tanto o baralho italiano - no qual os paus foram substituídos por bastões cerimoniais, conservando-se as espadas, copas e moedas (denari) - quanto o espanhol, com seus bastões, espadas, copas e ouros, parecem claramente herdeiros do baralho de Istambul.


JOGO DE BASILÉIA


No Museu Britânico, em Londres, conserva-se o original de um sermão do monge alemão  João (Johannes), da cidade de Basiléia, um dos grandes centros culturais europeus da Baixa Idade Média. Nele, João assinala claramente que as cartas haviam chegado àquela cidade vindas do exterior, em 1377. Além disso, o monge fala de reis sentados em seus tronos (o que lembra os reis do baralho italiano, que estão usualmente sentados, enquanto os  doe espanhol aparecem de pé), cada qual acompanhado por dois marechais, e de rainhas, que por sua vez contam com dois ajudantes. João de Basiléia menciona até seis baralhos de 52 a 60 cartas, agrupadas em naipes representados por símbolos. Infelizmente, ele não dá mais detalhes sobre as figuras e esses símbolos.



domingo, 19 de fevereiro de 2012

AS CARTAS NO EXTREMO ORIENTE



LENDAS


Quando a História não apresenta provas - a favor ou contra - de determinada explicação de um acontecimento, costumam aparecer lendas. A história da humanidade está repleta de lendas: a de Rômulo, Remo, a loba e a fundação de Roma é um excelente exemplo. A falta de provas concretas sobre as origens e a evolução das cartas de jogar também provocou, ao longo dos séculos, o surgimento de inúmeras lendas.
A primeira delas origina-se dos míticos aposentos interiores do palácio do imperador da China. Desde os tempos da dinastia Chu (112-255) até os da dinastia Sung (950-1279), o imperador da China não tinha simplesmente uma mulher. Esse papel era compartilhado por uma imperatriz, três consortes, nove esposas, 27 concubinas e 81 ninfas ou auxiliares de concubina. Cada grupo dessas mulheres tinha acesso ao leito do imperador proporcionalmente a seu número. Assim, a imperatriz tinha o direito de passar apenas uma noite com o supremo monarca; as três consortes e as nove esposas permaneciam com ele também uma noite, mas somente uma por grupo; as concubinas e as ninfas visitavam o soberano em grupo de nove, três noites para três grupos de concubinas e nove noites para nove grupos de ninfas. Observe-se que a relação dos grupos baseava-se no número 3, considerado de grande importância para os astrólogos da antiga China.
A participação em cada um desses grupos não era vitalícia. Os postos iam sendo renovados regularmente, sem que as antigas eleitas abandonassem seus aposentos no harém. Além disso, todas elas tinham empregadas que as atendiam, motivo pelo qual chegaram a viver no palácio imperial mais de 3 mil mulheres sem muita coisa a fazer. É obvio que o tédio era uma constante. É exatamente nesse contexto que a lenda situa a origem das cartas de jogar e, inclusive, especifica o ano de 1120 como a data de sua invenção, embora não se refira ao nome do inventor ou inventores.
Em favor dessa explicação, assinale-se que, além do tédio permanente e da imperiosa necessidade de entretenimentos e de novidades entre as mulheres do harém, o imperador Hui, cujo reinado transcorreu entre os anos de 1100 e 1125, era um excelente pintor e calígrafo. Graças a essas qualidades, ele teria podido apoiar a iniciativa surgida no harém e, com seu prodigioso pincel, colaborador com ela. Além disso, esse período foi um dos mais interessantes no que se refere à impressão xilográfica na China.



Uma segunda lenda atribui a invenção das cartas de jogar à esposa de um irrequieto marajá da Índia. O tédio da nobre dama transformou-a em uma pessoa terrivelmente irritável, a quem desagradava, em especial, a mania que seu marido tinha de ficar arrancando fios de barba. Para terminar com esse péssimo hábito do marajá, pensou em fazer com que ele mantivesse as mãos sempre ocupadas. Segundo a lenda, foi assim que a dama indiana inventou as cartas de jogar.


KHANHOO WILKINSON E CULIN


Dois importantes estudiosos da origem das cartas na China, sir William Khanhoo Wilkinson (1858-1930) e Stewart Culin (1858-1929), concordam em afirmar que elas chegaram àquele país procedentes da Coréia. Durante muitos anos, Wilkinson foi cônsul da Inglaterra na China e, ao longo desse período, além dos trabalhos relacionados à diplomacia, dedicou um enorme esforço ao colecionamento e ao estudo das cartas e dos jogos chineses. Ele publicou diversas obras a respeito, entre as quais podem ser mencionadas O jogo do khanhoo e Sobre a origem chinesa das cartas européias. Por sua vez, Stewart Culin foi diretor do Museu de Arqueologia e Paleontologia da Universidade de Pensilvânia. Especialista em etnologia, ele se interessou em particular pelos jogos asiáticos. Entre suas obras destacam-se Jogos coreanos, Os jogos de apostas dos chineses e Xadrez e cartas.
Segundo a descrição de Culin, o baralho coreano normal constituía-se de oito naipes de dez cartas cada um, embora, em função do número de jogadores, os naipes pudessem ser reduzidos a seis, ou mesmo a quatro (tal como se costuma fazer no pôquer, em que o número normal de cartas do baralho pode ser modificado em função do numero de participantes do jogo). Os oitos naipes do baralho coreano chamavam-se sa-ram (homem), moul-ko-ki (peixe), ko-makoui (corvo), koueng (faisão), no-ro (antílope), pyel (estrela), htoki (coelho) e mal (cavalo). As cartas eram feitas de estreitas tiras de seda, de aproximadamente 1 centímetro de largura e até 20 centímetros de comprimento. A de maior valor em cada naipe era o general (tiyyang).
As cartas chinesas, ao contrário, apresentavam-se em maior variedade de formas e, embora em geral lembrassem as coreanas, eram um pouco mais curtas e mais largas. Os baralhos chineses mais comuns eram o kwan-pai, que tinha três naipes, e o lu-tchi, de quatro naipes. Cada naipe desses baralhos compreendia nove cartas numéricas - do um ao nove - e uma figurada. As cartas não continham ilustrações ou apresentavam um padrão de losangos. Às vezes, usavam-se certos sinais repetidos nos dois extremos da carta, de modo que, na prática, elas eram reversíveis.
A forma e alguns símbolos utilizados nas cartas coreanas levaram os mencionados especialistas a concluir que elas originalmente foram uma transposição das flechas usadas para finalidades de adivinhação. A forma alongada e algumas semelhanças na constituição dos baralhos, bem como nos nomes de alguns naipes, constituem as principais provas dessa evolução.
Embora não tivesse determinado uma época precisa para a criação dos baralhos coreanos, Culin observou que algumas das figuras dos baralhos chineses que derivaram dos mesmos inspiravam-se em personagens de um romance escrito por Shi-nai-ngan durante a dinastia Yuan (1280-1368). Essas teriam sido as cartas que chegaram à Europa e que se tornariam a base dos baralhos desenvolvidos nesse continente; Há estudiosos que não concordam com esse suposição pelo fato de não se ter encontrado nenhuma prova física da evolução de um baralho oriental para um ocidental. Mas há um forte argumento contra tal objeção: para muitos especialistas, o que viajou para o Ocidente não foi propriamente o baralho, mas a sua descrição, que teria sido interpretada de modo diferente nos diversos países. Seja como for, em todos eles se manteve o conceito de variados naipes compreendendo, cada qual, uma série de cartas numéricas "chefiadas" por poderosas figuras (os reis).


ÍNDIA


Já na mais remota Antiguidade, os povos que habitavam o vale do rio Indo desenvolveram uma florescente cultura , refletida também em seus jogos. As cartas indianas tinham uma concepção muito diferente das sino-coreanas, o que demonstra claramente que suas origens eram distintas. Enquanto a cor não se destaca especialmente nas cartas chinesas, as indianas surpreendem por sua exuberância cromática. As cartas chinesas são alongadas e inspiram-se no dinheiro e em outros símbolos materiais; as indianas, ao contrário, são redondas e baseiam-se nos avatares (reencarnações) de Vishnu, o  deus que com Brama e Siva forma a sagrada trindade hindu - Vishnu encarna a origem do universo e de todos os deuses, que não seriam mais do que emanações ou diferentes aspectos seus.




As cartas indianas tem de 3 a 10 centímetros de diâmetro e se distribuem em oito ou dez naipes, cada qual composto por dez numéricas e duas figuradas de maior valor. Elas são formalmente tão diferentes das européias que não podem ser consideradas predecessoras destas. No entanto, Hanumant, o deus-macaco que é um dos protagonistas do sétimo avatar, empunha, com suas quatro extremidades, uma copa, um cetro, uma espada e um anel. Em outro avatar, Ardhanarisvara - figura formada em parte por Siva e em parte por sua noiva Devi - segura em suas quatro mãos uma copa, uma espada, uma moeda e um bastão. Observa-se uma semelhança dos símbolos ostentados por esse deuses com os dos naipes do baralhos espanhol, italiano e português. Sem dúvida, é possível que a descrição das cartas indianas tenha servido como inspiração para os naipes desses baralhos europeus.
Curiosamente, hoje podem ser encontrados baralhos indianos com cartas circulares, igualmente baseados nos avatares de Vishnu, mas com os símbolos típicos dos baralhos inglês e francês - paus, ouros, copas e espadas - distinguindo quatro de seus naipes.


PÉRSIA


Os antigos baralhos persas tinham cartas retangulares, com um tamanho semelhante ao das européias atuais (cerca de 6 centímetros de altura por aproximadamente 4 de largura).
Elas eram feitas de marfim ou de cartão envernizado e suas figuras, entre muitos outros temas, representavam bailarinas, reis e rainhas, em seus tronos e leões, devorando serpentes, todos desenhados em fundos de cores vivas. Muitas vezes, os baralhos eram compostos por 96 cartas distribuídas em oito naipes, que se diferenciavam pela cor do fundo. A única relação que se pode estabelecer entre as cartas persas e as européias está em um dos jogos que se praticavam com aquelas, o as nas, que teria sido o antecessor de vários jogos de aposta, entre os quais o pôquer.


JAPÃO




O baralho típico do Japão, o hana-karuta (jogo das flores), é relativamente recente, provavelmente dos séculos XVI ou XVII, e merece uma menção especial pela proximidade geográfica desse país com a China e a Coréia. Ele se compõe de 48 cartas distribuídas em doze séries de quatro cada uma, representando os doze meses do ano: matsu (pinheiro), janeiro; ume (ameixa), fevereiro; sakura (cereja), março; fuji (glicínia), abril; ayama ou shobu (lírio), maio; botan (peônia), junho; hagi (trevo), julho; susuki (céspede), agosto; kiku (crisântemo), setembro; momiji (bordo), outubro; yanaki (salgueiro), novembro; e kiri (paulonia), dezembro. Por influência dos colonizadores portugueses, essas cartas adotaram os símbolos de ouros, copas, espadas e bastões, transformados pela peculiar sensibilidade artística do povo japonês.

sábado, 18 de fevereiro de 2012

ORIGEM DAS CARTAS



Até hoje não se estabeleceu com precisão a origem das cartas de jogar, apesar dos grandes esforços nesse sentido empreendidos pelos pesquisadores. Determinar a forma e o momento histórico em que se deu o nascimento das cartas tem se mostrado uma tarefa extremamente complexa. No entanto, não deveria ser tão difícil assim encontrar o inventor das cartas e explicar de que forma os jogos com elas praticados foram se transmitindo de um país a outro por todo o mundo. Afinal, elas tem pouco mais de seiscentos anos de existência na Europa - os primeiros testemunhos de cartas européias remontam ao final do século XIV. Ao longo do século seguinte, elas se difundiram pelo continente com enorme velocidade e, surpreendentemente, é possível saber mais sobre essa expansão não pelas cartas em si, mas pelas numerosas proibições que em todo o mundo foram impostas aos jogos de cartas.
Embora não se tenha conseguido até aqui descobrir com precisão como ocorreu essa rápida difusão, conhecem-se alguns fatos por meio das quais se levantaram diversas teorias. Estas acabaram confirmadas ou desmentidas por descobertas posteriores.



O ORIENTE E AS PRIMEIRAS CARTAS



As cartas chegaram à Europa procedentes do Oriente, mas não como objetos tangíveis e, sim, descritas em relatos e textos de diferentes viajantes. Desse modo, expandiu-se pelo continente a idéia desses objetos para o jogo. Esta gerou posteriormente os diversos modelos de baralhos "nacionais".
Dizer que as cartas vieram do Oriente é apenas uma primeira e pouco exata aproximação em relação à origem delas, já que essa afirmação serve apenas para indicar que não são uma criação européia. Ao longo da história da humanidade, cada grupo humano mais ou menos amplo cunhou alguma expressão para designar ou outros grupos humanos diferentes do seu. Para os romanos, por exemplo, todas as tribos situadas a norte e a leste de suas fronteiras eram chamadas de povos bárbaros, ou seja, estrangeiros. O mesmo acontece com a denominação "Oriente": naquela época (final do século XIV, início do século XV), o Oriente compreendia o norte da África, o sul da península Ibérica ocupado pelos árabes, o leste europeu e os países asiáticos compreendidos entre os mares Mediterrâneo e Vermelho e o golfo Pérsico. Também faziam parte do Oriente, como ocorre atualmente, os países situados a leste do Himalaia (Extremo Oriente). Por isso, afirmar que as cartas procederam do Oriente obviamente não resolve o problema da incógnita a respeito de sua origem.




Quanto aos caminhos pelos quais as cartas chegaram à Europa, também eles suscitaram inúmeras teorias. No início, atribuía-se sua introdução na Europa aos árabes, que tantas coisas levaram ao Ocidente. Mas os árabes não possuíam cartas, nem sua religião lhes permitia reproduzir imagens com formas humanas. Na realidade, o único jogo de cartas "árabe" conservado é turco. Também se mencionaram os ciganos e seus baralhos divinatórios, mas quando as grandes migrações ciganas chegaram ao Ocidente fazia tempo que as cartas eram largamente conhecidas na Europa. Atribui-se também a introdução das cartas de jogar no continente europeu a Marco Polo, que as teria trazido da China. Mas parece que Polo nunca chegou de fato à China e que todas as histórias que narrou foram ouvidas por ele no Oriente Médio. Outras teorias atribuem a expansão das cartas no Ocidente às cruzadas e mesmo, durante muito tempo, circularam histórias atribuindo a invenção delas a certos personagens, como Vilhan e Nicolau Papin, que logo se verificaram serem inverídicas.


A SUPOSTA ORIGEM EUROPÉIA DAS CARTAS




Sempre existiu um grande interesse em demonstrar que as cartas de jogar têm origens européias. Sem dúvida, trata-se de um esforço até certo ponto paradoxal, considerando-se que, como em geral se admite, a idéia das cartas procede do Oriente. No entanto, a resposta para esse enigma é bem simples. A maioria das cartas utilizadas atualmente em todo o mundo é de estilo europeu, em termos de concepção e de características - quatro naipes, uma série de cartas numéricas e outra de cartas com figuras -, assim como a maioria dos jogos de cartas (sem esquecer que a maioria dos jogos praticados nas Américas e na Austrália também tem origem européia). As cartas chegadas do Oriente evoluíram na Europa e, a partir desse continente, expandiram-se para todos os cantos do mundo, principalmente por meio dos baralhos espanhol e inglês. Uma mostra dessa influência pode ser observada no Japão, onde foi importante a obra das missões luso-espanholas do século XVI. (Nessa época, Portugal e demais reinos da península Ibérica eram governados pelo mesmo rei, Felipe II. Essa união prolongou-se até meados do século XVII, quando, sob o reinado de Felipe IV, Portugal voltou a separar-se do império espanhol). Lá, as missões  introduziram, entre outros costumes, o jogo de cartas com baralho espanhol, em especial a variante portuguesa. Assim, "carta" tornou-se karuta em japonês; "copas", koppu; "ouros", oru. Na Indonésia, a palavra "carta", transformou-se em Kertu.




Sejam as cartas uma criação européia ou tenham procedido originalmente do Oriente, o que parece certo é que elas iniciaram sua expansão pelo continente europeu a partir da Itália - pelo menos, é desse país que vêm os exemplares e testemunhos mais antigos.
Da Itália as cartas passaram rapidamente, através do sul da França - ou diretamente através do reino de Nápoles, então pertencente à coroa aragonesa -, à Catalunha e ao restante da península Ibérica. Elas também seguiram para o norte, até a França e a Alemanha, dando origem aos baralhos nacionais desses dois países. A partir da França, as cartas passaram à Inglaterra, onde o modelo francês adotaria a forma que atualmente se conhece como baralho inglês. Exceto neste último caso, em que o baralho foi levado fisicamente da França à Inglaterra pelos impressores e gravadores franceses, parece que as cartas de jogar se transmitiram por meio das notícias e descrições dos viajantes que cruzaram a Europa. Isso explica o surgimento dos diversos modelos de baralho europeus.


O QUE É UMA CARTA ?


Um dos principais obstáculos enfrentados pelos estudos a respeito da origem das cartas é a dificuldade em definir claramente o que é uma carta. Já que nem o material de que são feitas (cartão, papel, seda, marfim...), nem a forma (retangular, quadrada, circular, chanfrada, amoedada...), nem o conteúdo (símbolos espanhóis, símbolos franceses, símbolos alemãs, jogos de família, cartas de mah jong, cartas educativas, cartas históricas...), nem os jogos com elas praticados servem como critérios de identificação absolutamente determinantes. Nos principais museus do mundo dedicados às cartas podem ser encontrados exemplos de todos esses tipos, e muitos mais.
Talvez as únicas características comuns a todos eles sejam a extrema delgadeza - o que diferencia as cartas das fichas ou outros objetos utilizados em jogos - e o fato de participarem de um grupo de elementos semelhantes organizado segundo um critério preciso. Em qualquer caso, ambas as características devem estar inseparavelmente unidas no objeto que usualmente denominamos carta.