terça-feira, 6 de março de 2012

AS PRIMEIRAS CARTAS DA INGLATERRA





Não existem registros da chegada das cartas às Ilhas Britânicas, especialmente à Inglaterra. Nos Contos de Canterbury, de Chaucer, que mostram tão bem a vida cotidiana inglesa na primeira metade do século VX, as cartas não são mencionadas, o que deixa a entender que não eram conhecidas na época. No entanto, durante esse período histórico, Inglaterra e França estavam envolvidas na Guerra dos Cem Anos e eram muitos os soldados ingleses que iam e vinham das ilhas ao continente e vice-versa. Também eram freqüentes as viagens aos lugares santos com motivo das cruzadas ou simplesmente em peregrinação. Por outro lado, os comerciantes italianos, espanhóis e holandeses realizavam grande parte da sua atividade nos portos ingleses. Portanto, é possível que esses comerciantes e os marinheiros que os acompanhavam tenham sido os responsáveis pela introdução das cartas na Inglaterra. W.A. Chatto, no seu livro Fatos e especulações sobre as origens e as histórias das cartas, sugere que as cartas de jogo chegaram na Inglaterra desde a Espanha, indiretamente através da Irlanda.
Independente do caminho pelo qual as cartas chegaram à Inglaterra, sabe-se que essas primeiras cartas foram importadas e que rapidamente alcançaram uma extraordinária expansão. Uma Lei do Parlamento, de 1463, decretava que "ficará proibida, a partir do próximo dia de São Miguel Arcanjo, a importância de..." e segue uma lista de objetos, cuja importação era considerada ilegal. Entre eles, já figuravam as cartas.
Outros documentos que se referem às cartas são as Paston Letters (uma das grandes fontes documentárias sobre a vida na Inglaterra na segunda metade do século XV), as anotações da contabilidade privada do rei Henrique VII e a norma que, em 1495, proibia a utilização das cartas pelos serventes e aprendizes.
A primeira notícia de um jogo é o relato de John Young sobre a viagem à Escócia da princesa Margarida, esposa do rei Jacob IV.
Na noite do 4 de agosto de 1503 a princesa foi acordada no castelo de Dalkeith, perto de Edimburgo, por causa de um incêndio nos estábulos. Neste incêndio, a princesa perdeu dois valiosos e estimados potros brancos, o que lhe causou grande depressão e tristeza. Foi necessário que o médico a tratasse com medicamentos antidepressivos e, na manhã seguinte, quando o rei foi visitá-la e consolá-la, a encontrou bem disposta, jogando cartas.
Infelizmente, o narrador não faz nenhum detalhe sobre o jogo nem sobre os participantes, apesar de descrever minuciosamente o vestido e o penteado da princesa. São exatamente as vestimentas usadas pelas classes mais elevadas da sociedade inglesa na primeira metade do século XVI são as retratadas nas figuras do baralho inglês, tal como demonstram os estudos que foram realizados sobre a história da indumentária. Destaca-se, em particular, o de F.A. Repton, publicado em 1843, que nos lembra que o costume das rainhas de colocar a coroa na parte posterior da cabeça se manteve até finais do século XVI. Os crescentes danos que as cartas causaram entre os soldados, motivaram, como já havia ocorrido anos antes na França, com que o rei Henrique VIII proibisse totalmente, mesmo que sem sucesso, os jogos de cartas e os dados. O rei, inclusive, mandou queimar "esses objetos de perdição, causa de todos os males".



Rei e dama de copas do mais antigo baralho inglês conservado. Cartas sem cor, confeccionados em 1675.


Calcula-se que, no início do século XVII, eram vendidos na Inglaterra cerca de meio milhão de baralhos por ano. É possível que uma grande parte fosse destinada à exportação.
Um marco importante na história das cartas inglesas é a criação, em 1628, da Whorshipful Company of Playing Cards Manufactures, uma espécie de sindicato dos fabricantes de cartas ingleses. Depois de poucos meses da sua fundação, foi totalmente proibida a importação das cartas para Inglaterra e Gales.
No entanto, apesar da lei rigorosa e da ameaça de castigos severo para os aduaneiros que permitissem a entrada de cartas nesses países e para os contrabandistas que o arriscassem, os fabricantes de carta ingleses continuaram protestando devido à concorrência das cartas estrangeiras. Estes protestos motivaram a promulgação de novas leis, em 1651 e em 1684, que reiteravam a proibição.
Os primeiros impostos ingleses sobre cartas -medidas de arrecadação que novamente provocaram os protestos dos fabricantes- foram estabelecidos no início do século XVIII com o objetivo de financiar as campanhas do lorde Marlborough nos países Baixos durante a Guerra de Sucessão Espanhola. Evidentemente, depois de descoberta esta fonte de renda, a Coroa manteve os impostos após o fim do conflito bélico.



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