sábado, 12 de maio de 2012

A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL

Com a retomada dos sentimentos patrióticos e do espírito bélico, as indústrias de cartas recuperaram temas similares para suas criações, como os anteriormente expostos durante o conflito de 1914-1918.
Em 1941, a fábrica de cartas norte-americana E.E. Fairchild Corporation, de Rochester (Nova Iorque), editou um baralho de apoio aos britânicos, com o nome de Bundles for Britain.
A United States Playing Card Company também editou baralhos deste tipo, em apoio à Iugoslávia (Relief for Iugoslávia) e à Noruega (Friends of Norway).
Do lado adversário, destaca-se o baralho editado por H. Behrmann, de Flensburg, Alemanha, nos anos imediatamente anteriores ao início da guerra. Neste baralho os paus são substituídos por suásticas e a águia nazista aparece em todos os ases. Em 1941 apareceu um baralho em que se fazia uma paródia dos líderes britânicos - também se incluíam personagens de outras nacionalidades - que se mostravam em atitudes e posturas afrontosas. Nos reis aparecem Churchill, Alfred Duff Cooper, Lord Halifax (embaixador dos Estados Unidos) e Anthony Eden (ministro dos assuntos exteriores). As rainhas são quatro figuras alegóricas de uma Inglaterra agressiva. Nos valetes aparecem personagens que parecem ser os criados dos reis e pelos quais o autor do baralho manifesta um ódio especial: Ahmed Zogú (deposto rei da Albânia), Paul Reynaud (político francês), Edvard Benes (presidente tcheco no exílio) e o marechal polonês Rydzsmigly. O curinga desse baralho é um molesto Stalin. Ressalta-se, significativamente, que no ano anterior ao ataque a Pearl Harbour e a entrada oficial do Japão no conflito, havia aparecido naquele país um baralho de 60 cartas com fotografias de oficiais, soldados, barcos da marinha e aeroplanos japoneses.
Com um espírito mais didático, a indústria de cartas norte-americana Burton Crane editou um baralho de 108 cartas, a French Lingo, com o objetivo de ensinar francês aos soldados americanos destinados à Europa. Em cada carta incluíam-se cinco frases em francês.
Outro baralho bélico americano da United States Playing Card Company foi o denominado Spotter, destinado a instruir a população na prática e na técnica da observação aérea. Em cada um dos naipes mostravam-se os aviões dos exércitos em combate: espadas, Estados unidos; copas, Grã Bretanha; ouros, Alemanha; e paus, Japão.
Com a derrota dos exércitos alemães e o previsível final da guerra, os fabricantes aliados adotaram uma atitude claramente vitoriosa.
Este é o caso do baralho impresso por Waddingtons, de Leeds (Grã-Bretanha), para comemorar o desembarque da Primeira Divisão transportada via aérea em Arnhem (Holanda) em setembro de 1944; e outro, da Arrco Playing Card Company, de Chicago, chamado Victory, com imagens dos populares Tio Sam e Miss Liberty, assim como dos soldados e marinheiros nas figuras. Em 1944, também a fábrica de cartas Biermans, de Turnhour, Bélgica, editou um baralho antecipando-se à liberação e que ficou conhecido pelo nome de baralho Jeep, já que em seus dorsos aparece este popular veículo do exército norte-americano. Nos ases se reproduzem os retratos de Stalin, Montgomery, Eisenhower e De Gaulle.
Outro baralho com o nome de Victory é o editado pela Universal Playing Card Co. (antes Alf Cooke & Co.), dos Estados Unidos, com retratos dos líderes aliados - incluindo Roosevelt e Stalin - e com o lema United We Stand ("Permanecemos unidos").
Poucas semanas depois de terminada a guerra, os fabricantes belgas editaram um baralho que incluía o lema Union Fait La Force ("A união faz a força"), com um naipe dedicado a cada um dos exércitos vencedores, encabeçados pelos retratos dos líderes aliados nos reis (Churchill no rei de espadas, Roosevelt no de ouros, Stalin no de copas e De Gaulle no de paus). As damas eram quatro mulheres com aparência bélica cobertas pelas bandeiras dos quatro principais países vencedores: Grã-Bretanha (espadas), Estados Unidos (ouros), União Soviética (copas) e França (paus). Os valetes são soldados dos quatro exércitos, mostrando orgulhosamente os uniformes dos seus respectivos batalhões. Nos ases estão reproduzidos monumentos emblemáticos de cada um dos quatro países citados: o Big Ben, a estátua da Liberdade, o Kremlin e a torre Eiffel. O curinga deste baralho mostra um Hitler atordoado com uma bomba sobre sua cabeça.



A PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL

A Primeira Guerra Mundial - ou Grande Guerra, como ficou conhecida até a eclosão da Segunda - ofereceu grandes oportunidades para a indústria de baralhos mostrar seus fervores patrióticos.
Geralmente, os baralhos produzidos tanto de um lado (a Tríplice Aliança) como de outro (Os aliados) incluíam nas figuras retratos dos chefes de estado e dos principais generais envolvidos na guerra e, nas demais cartas, cenas bélicas. A fábrica Piatnik Und Sohne de Viena (fundada em meados do século XIX e atualmente uma das mais importantes do continente) editou um tarô em que os trunfos eram cenas de guerra. No Canadá, a Montreal Litograph Co. editou um baralho que incluía, na cara da carta, reis, generais e soldados das forças aliadas e no seu verso, as bandeiras de seis países. Também De La Rue e Goodall & Sons, na Grã-Bretanha, editaram baralhos sobre a guerra. Não aconteceu o mesmo na França, devido a uma imposição legal que impedia a variação nas cartas, em respeito aos padrões nacionais estabelecidos, mas, sim, se editaram jogos de cartas infantis patrióticos, já que estes não estavam sujeitos à mesma imposição. Nos Estados Unidos, em 1915, 1917 e 1918, editaram-se baralhos "apaixonadamente democráticos", onde se denegriam as monarquias e vangloriavam a democracia. Por outro lado, a U.S. Playing Card Company, no último ano da guerra, editou um baralho educativo com frases em francês e inglês em cada carta, com instruções sobre a pronúncia, para o uso das tropas americanas acantonadas na Europa. Um dos baralhos patrióticos mais destacados por sua qualidade, entre os editados em plena guerra, é o editado em 1916 pela Spielkarte de Altenburg. É um baralho de símbolos alemães dedicado a elevar o ânimo e afirmar o poderio do povo germânico, no qual não se inclui menção alguma sobre os inimigos. Os quatro reis são os quatro homens da família imperial: o Kaiser, os príncipes Wilhelm e Rupprecht, e o duque Albrecht. Nas outras figuras (obers e unters, todos os homens) aparecem personagens de destaque da empresa bélica germânica, como o marechal Von Hindenburg ou o conde de Zeppelin. As cartas numeradas mostram os símbolos alemães tradicionais, corações, folhas, belotas e guizos (apesar de que estes últimos estão desenhados de modo a lembrarem os balões aeroestáticos de observação), pintados sobre cenas alegóricas da Grande Guerra, como um vôo sobre a Sena ou alguns navios disparando contra a costa da Inglaterra.
Ainda que outros baralhos tivessem sido editados no final da guerra, foram os aliados que o fizeram em celebração da vitória. Os belgas, que tanto sofreram durante a guerra, editaram um baralho duplo, o mais destacado deste tipo, tanto pela rapidez com o que fizeram como também por sua qualidade e desenho. Os dois baralhos são complementares, já que em um único não caberiam todos os personagens que os belgas desejavam homenagear e nem todos os feitos que pretendiam comemorar. Assim, as cartas numeradas estavam divididas em duas metades e em cada uma delas era representada uma cena diferente, pois o número total das cenas é superior à 150 (cada baralho possuía 54 cartas, incluindo os dois curingas). Nelas se reproduziam miniaturas que mostravam batalhas e outros episódios da guerra, como o uniforme dos soldados, as armas, os veículos e todo tipo de detalhes, o que atualmente constitui uma notável fonte de informação gráfica sobre aqueles acontecimentos. Em um dos baralhos, os reis são Jorge V da Grã-Bretanha, Victor Emmanuel III da Itália e dois presidentes, Poincaré, da França, e Wilson, dos Estados Unidos. No outro baralho estão Alberto I da Bélgica; o imperador Yoshi-Hito, do Japão; Alejandro I da Sérvia e Fernando I da Romênia.
As damas são, no primeiro baralho, as esposas dos reis, as rainha Mary da Grã-Bretanha e Helena da Itália, assim como duas figuras alegóricas, Mariana da França e Miss Liberty dos Estados Unidos.
No segundo baralho aparecem as esposas dos monarcas da Bélgica, Romênia e Japão, junto a uma figura alegórica da Sérvia. Os valetes lembram os grandes chefes militares: Jofre, Foch, Haig e Cadorna, no primeiro; Pétain, Pershing, Leman e Kitchener, no segundo.



AS CARTAS NO SÉCULO XX

Com as indústrias de cartas convertidas em fábricas e os mestres deste ofício transformados em trabalhadores industriais, as cartas deixam de ser um instrumento de jogo para converter-se num objeto cuja finalidade são elas mesmas. As fábricas de cartas produzem dois tipos de baralho: por um lado, as cartas destinadas ao jogo, que tem as caras com modelo padrão, já que os jogadores são muito conservadores neste sentido (é mais fácil adotar um novo jogo ou uma variação no jogo do que um novo desenho ou uma mudança nas cartas); por outro lado, estão as cartas criadas para comemorar algum acontecimento (guerra, copas, armistício, feiras, etc), ou para ilustrar algum aspecto das atividades humanas. Estas cartas estão dirigidas aos colecionadores. Mesmo assim, o auge do marketing e as campanhas publicitárias usam as cartas como um dos seus grandes veículos publicitários. Inicialmente as cartas são utilizadas mas, quando os publicitários descobrem que os jogadores não jogam com essas cartas, a publicidade muda para o verso das cartas e as caras continuam inalteradas. Desta maneira são reduzidos os custos de impressão e a publicidade capta os jogadores.
A conversão das fábricas de cartas em indústrias modernas produziu também a sua concentração. Assim, por exemplo, nos Estados Unidos, das duzentas pequenas fábricas de cartas fundadas no século XIX passou-se a para somente cinco em 1969, e que eram: The United States Playing Card Company of Cincinnati, The Arco Playing Card Company of Chicago, Stancraft of St. Paul (Minnesota), Whitman of Racine (Wisconsin) e Kem of Poughkeepsie (Nova York). Atualmente deve ser acrescentada à lista a U.S. Games System.
A primeira das companhias citadas, a The United Playing Card Company, que domina quase dois terços do mercado americano e que tem uma grande participação na espanhola Naipes Fournier, é ao mesmo tempo uma divisão do conglomerado financeiro denominado The Diamond International Corporation de Nova York.
Outro fenômeno global que ocorreu na segunda metade do século XX é o desaparecimento generalizado dos impostos especiais sobre as cartas e das impressões que eram feitas sobre algumas cartas para indicar o pagamento dessas taxas.


OS BARALHOS COMEMORATIVOS


No final do século XIX e princípio do XX, a U.S. Playing Card Company editou um baralho em homenagem aos heróis americanos da guerra de Cuba, conhecida como a Army and Navy Pack. A guerra dos boérs, onde se enfrentaram na África do Sul os colonizadores ingleses contra os alemães e holandeses, foi também objeto de vários baralhos entre os quais se destacam o de C.L. Wust de Frankfurt, celebrando as vitórias boérs sobre os ingleses. Um outro baralho criado por H.M. Guest (proprietário de um jornal local e correspondente da Reuter), na África do Sul, para contrapor a escassez de baralhos motivada pela guerra, foi impresso sobre papel ordinário e possui um caráter completamente artesanal.
As coroações de Eduardo VII, filho da rainha Vitória e, posteriormente, a de seu sucessor Jorge V, serviram para que as companhias inglesas (De la Rue, Waddington, Goodall & Sons) editassem baralhos comemorativos de tais eventos. A abertura da passagem de Yukon no final de 1899 também foi comemorada pela U.S. Playing Cards com um baralho, a White Pass and Yukon Route, que deu início a uma série de baralhos de temas geográficos.
Assim, em 1901, foram editados os de Hawai, Califórnia e as cataratas de Niágara, seguidas por uma produção incessante de cartas geográficas de todas as regiões do planeta.
Na Espanha destacam-se os baralhos taurinos, nos quias são representados os heróis e as figuras dos torneios (ainda que este tipo de baralho já era produzido na segunda metade do século XIX), os de tipos literários com Dom Quixote ou Dom Juan Tenório e os satíricos, muito populares nas duas primeiras décadas do século e que mais tarde foram retomadas pelas revistas de humor (El Papus, El Jueves, entre outras) nos últimos decênios do século. Também foram editados baralhos comemorativos do descobrimento da América e outros importantes acontecimentos históricos.
Uma novidade curiosa na fabricação de cartas é o aparecimento de cartas de formas diferentes (redondas, em zig-zag, etc), ou com os naipes de cores variadas com objetivo de evitar confusões e faltas. Um exemplo destacado é o baralho impresso em Vitória por Hijos de Heráclio Fournier que representa os quatro naipes nas cores preta, verde, vermelha e azul.
A especialidade dos baralhos de tarô de advinhação, que não estão destinados ao jogo, foi especialmente fértil na criação e realização de todo tipo de desenho. É importante destacar como exemplos extremos destas cartas o baralho desenhado por Salvador Dali e o utilizado no filme Viva e Deixe Morrer (1973), protagonizado pelo célebre agente secreto James Bond.