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quinta-feira, 15 de março de 2012

OS BARALHOS INSTRUTIVOS EUROPEUS





Seguindo o exemplo das cartas instrutivas de Thoman Murner, os baralhos instrutivos, ou seja, grupos de cartas relativamente numerosos cujo principal objetivo era ensinar, não somente distrair, estenderam-se por toda a Europa. Atingiram uma grande difusão e popularidade, adiantando-se alguns séculos em relação às modernas concepções pedagógicas sobre os jogos didáticos.
Alguns desses baralhos somente se assemelhavam às cartas autênticas na sua forma -cartolinas retangulares -, mas não se constituíam de cartas de jogar propriamente ditas. No entanto, outros eram realmente baralhos de cartas de jogar; além dos símbolos próprios de cada naipe, suas cartas continham informações destinadas a instruir o jogador em uma determinada matéria.
Em 1603, ao receber uma encomenda eclesiástica, Andream Strobl, natural de Sulzbach (Baviera), criou um baralho de 32 cartas, cada qual contendo uma cena bíblica.
Esse baralho foi publicado também em forma de livro, com numerosas notas e explicações, sob o título de Das Geistliche Deutsche Carten Spil.
Um notável e fanático jogador de cartas foi Giulio Mazzarini (1602-1661), mais conhecido como cardeal Mazzarini, apesar de não ter sido ordenado sacerdote. Em 1643, Luís XIV sucedeu o seu pai como rei da França, mas, por ainda ser menor de idade, sua mãe, Ana de Áustria, converteu-se em regente e confiou os assuntos de Estado à sua eminência o cardeal Mazarino. Uma de suas obrigações consistia em supervisionar a educação do jovem rei. Além de lhe proporcionar professores especializados em diversos campos, encomendou a criação de quatro baralhos de cartas educativos a Jean Desmarets, senhor de Saint-Sorlin, conselheiro do rei e amigo de Mazzarini. Os baralhos (Reis da França, Rainhas famosas, Geografia e Fábulas) foram gravados pelo florentino Stefano della Bella ou, como é conhecido na França, Etienne de la Belle. Em cada uma das cartas, além dos símbolos que correspondem ao naipe, há um retrato, um mapa ou uma ilustração junto a um texto explicativo. Posteriormente, esses baralhos foram publicados em forma de livro para facilitar o estudo de História, Geografia e dos mitos. Ana de Áustria aparece como uma das rainhas do baralho -representada como a rainha de paus do baralho Rainhas famosas - a quem também lhe atribuem grandes virtudes. Em 1644, Jean Desmarets obteve o monopólio de venda dessas cartas, que foram impressas em diversas ocasiões durante o século XVII.




Carta de um baralho geográfico francês de 1800. À sua direita, carta de um baralho sobre os costumes da época, impresso em Paris, em 1890.


Junto a essas cartas instrutivas, das quais existem vários exemplos em toda Europa, na Inglaterra apareceram outros baralhos com finalidades instrutivas -no sentido de passarem algum tipo de informação -, ainda que, neste caso, as opiniões prevaleciam sobre as informações imparciais, quando não eram claramente satíricos ou depreciativos, como o baralho A Complete Satirical Satire of the Commonwealth, publicado contra Oliver Cromwell em 1680. Essas cartas continham a particularidade de terem, sobre a imagem, uma faixa horizontal na qual, à direita, constava o número romano da carta e, à esquerda, o símbolo do naipe. Essa disposição converteu-se em modelo para esse tipo de cartas. Outro baralho do mesmo ano, The Spanish Armada, continha imagens da vitória sobre a Armada Invencível, ocorrida cem anos antes, além de propaganda anticatólica. Outros baralhos de propaganda anticatólica foram All the Popish Plots, The Horrid Popish Plot (o mais popular de todos), The Meal Tub Plot e The Duke of Monmouth's Rebellion.
Outros baralhos instrutivos muito populares são os conhecidos como "baralhos de balões" ou "baralhos de bolhas". Os personagens que contêm são acompanhados de balões com suas falas, como se fossem os precursores dos quadrinhos modernos. Os primeiros baralhos desse tipo apareceram na Inglaterra em 1770-71 e, geralmente, sua função era advertir contra o avance colonialista. Também no século XVIII, apareceram certos baralhos que, mais que instrutivos, eram ilustrados, pois as imagens que continham não tinham um objetivo pedagógico, mas cultural. Os baralhos de apaixonados (Love Mottoes, sobre "a paixão do amor tratada alegremente") e os baralhos com partituras (Beggar's Opera, em 1727) são bons exemplos.